Durante mais de 30 anos, o padre americano Bruce Teague suportou o peso de um segredo nunca revelado: o de que, aos nove anos de idade, quando era coroinha, foi abusado sexualmente por um padre de sua paróquia, no estado de Massachusetts.
Hoje, aos 65 anos, Teague usa sua experiência para ajudar outros sobreviventes desse tipo de crime.
Ele é um dos membros de um recém-criado grupo de padres e freiras dos EUA que se uniram para denunciar os abusos que continuam ocorrendo dentro da Igreja Católica e incentivar que vítimas e testemunhas rompam o isolamento e venham a público relatar novos casos.








'A Igreja continua protegendo os que cometem abusos', disse à BBC Brasil o padre Thomas Doyle, que há mais de 30 anos tem sido um dos mais vocais membros do clero americano contra abusos na Igreja e também integra os Catholic Whistleblowers.
'Se um padre ou uma freira vier a público denunciar abusos e seu superior não concordar, o delator corre o risco de ser suspenso, de perder benefícios, salário, de nunca mais conseguir atuar em nenhuma paróquia', diz Doyle.
'Sei disso porque aconteceu comigo. No início, perdi meu emprego na Embaixada doVaticano (em Washington). Ao longo dos anos, me envolvi mais e mais nas denúncias e no apoio às vítimas. Como resultado, sou uma ovelha negra na Igreja Católica. Legalmente, ainda sou padre, mas nenhum bispo vai me deixar trabalhar', relata.



Algumas dioceses tratam as vítimas muito mal, como se fossem o criminoso', disse à BBC Brasil o padre Kenneth Lasch, que desde os anos 1980 se dedica a ajudar sobreviventes de abuso por parte do clero.
'Acabam sendo vítimas duplamente quando vão à Igreja denunciar seus casos. Muitas vezes têm de testemunhar diante de um conselho, que acaba descartando seus relatos e colocando em dúvida sua credibilidade. São intimidadas pela Igreja', afirma.
Lasch, de 76 anos, diz que as décadas de convivência com as vítimas deixaram marcas. Apesar de não ter sido prejudicado profissionalmente por denunciar casos de abuso, ele sofre de estresse pós-traumático há sete anos.
'Quando eu era mais jovem, conseguia estabelecer limites claros entre as pessoas que precisavam de ajuda e minhas próprias emoções. Mas quando os escândalos começaram a surgir, comecei a absorver muito a dor dos indivíduos. E, ironicamente, também absorvo a vergonha pelos que cometeram esses crimes', afirma.




                                                      
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